sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Juiz, júri e executor


                                                                               “Pontos de vista só devem ser respeitados quando refletem ações para o bem comum.”


Vivemos em um mundo onde, muitas vezes, a verdade não é aquilo que se pode comprovar através de evidências peremptórias; um mundo em que o pensamento individual é o documento de maior importância para se afirmar algo como verdadeiro e, consequentemente, obrigatório a todos. Não interessa as contradições, pois, segundo o meu raciocínio, eu sou o detentor da verdade absoluta. Observa-se essa constante na maioria das pessoas o tempo todo. É claro que não vou só afirmar ou eu estaria me incluindo no grupo a que me proponho a criticar aqui; só o que me indigna é que isso deveria ser observado por todos sem a necessidade de menção alheia. Mas deixe-me desenrolar meus argumentos para dar aos mesmos, características mais factuais. 

Constantemente me flagro analisando as preferências de cada indivíduo. Obviamente, todos têm o direito de apreciar as coisas que mais lhe são importantes ou convenientes; não há nada de errado nessa ação desde que ela não signifique atingir a preferência do outro. Mas, infelizmente, na prática, não é bem assim que as coisas acontecem. Vejamos, por exemplo, a realidade do futebol. Ora, todos os times têm os mesmos interesses: ganhar os jogos e, assim, um determinado campeonato, conseguir bons patrocínios para manter o time com a melhor qualidade possível. O maior problema é que, para a maioria das pessoas, só o que interessa é que o “meu” time seja o melhor. Os outros? Bem, os outros podem fracassar constantemente, desde que fracassem para a glória do que é melhor para mim. Um time só é bom, só joga com competência, só merece vencer se for para beneficiar a sua torcida, já os outros sempre tiveram sorte, ou “compraram” o juiz, ou foram favorecidos por algo que é irregular segundo a moral do jogo.

Analisemos outra grande questão que, provavelmente, é mais polêmica do que o futebol (e peço a todos que sejam justos antes de me condenarem às torturas de cada crença). A religião é uma das principais responsáveis pelas ações injustas e ignorantes que acontecem neste planeta. Algum de vocês já percebeu que todos tiveram a grande sorte de nascer no país onde a religião é a verdadeira! No ocidente, o cristianismo é a religião que vigora e, por isso, a correta. O hinduísmo, islamismo, budismo, dentre outras estão completamente erradas, já que não fazem parte da realidade cultural a que nos encontramos. Como podemos usar o senso de justiça em questões como essas quando cada indivíduo se recusa a aceitar que o que vai além do que é seu possa estar correto em um determinado momento?  Como ter o cuidado de fazer uma análise que exalta as qualidades apesar dos defeitos?

Darei aqui meus braços, pernas e pescoço a torcer para tentar exemplificar o que afirmei até agora analisando da forma mais justa possível o que não é de meu gosto pessoal. Gosto de rock’n roll, música clássica dentre outros estilos menos populares no Brasil; ainda assim não posso julgar o sertanejo ou o axé ou qualquer outro ritmo como de menor qualidade do que aquilo que eu aprecio. Só faria tal afirmação se de fato houvesse evidências para tal. Assim como não ouso dizer que o Iron Maiden é tão artístico quanto Vila Lobos, pois, obviamente, há uma grande diferença de aplicações artísticas em cada um dos artistas. Gosto de quadrinhos, mas nunca ousaria comparar os X-Men com Memórias Póstumas de Brás Cubas, pois eu estaria ignorando aspectos que dão ao segundo a qualidade de literatura, título que não pode se aplicar ao primeiro.

A todos que se recusam a avaliar de forma justa tudo o que lhes rodeia, só posso dizer que os mesmos assumem o papel de juiz, observando só o que lhes é conveniente, júri, condenando da forma que melhor lhes aprouver o que não é aceito por eles, e executor, dando a cada um de seus réus a punição que melhor acham adequada.

A igualdade entre todos os seres humanos só será possível quando cada um olhar para dentro de si mesmo e avaliar o quanto somos justos e o quanto somos egoístas.